quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Intervenção do Estado na crise e limites do keynesianismo

Muitas empresas se envolveram com os chamados derivativos e amargaram prejuízos. O governo não está de acordo em se deve ou não ajudar essas empresas em dificuldades e, em caso afirmativo, como ajudá-las. De um lado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu enfaticamente que o governo não vai ajudar aquelas empresas que especularam. Várias empresas exportadoras fizeram operações financeiras apostando na queda do dólar e tiveram grandes perdas quando a moeda disparou, em virtude da crise financeira. “Essas empresas é que terão que arcar com os prejuízos, o governo não vai dar um tostão”, disse Mantega.Simultaneamente, o governo lançou um plano de socorro aos bancos e empresas em dificuldades. AMedida Provisória 443 autoriza o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (CEF) a comprarem sem licitação bancos e todas as empresas financeiras ligadas a eles, como seguradoras e companhias de previdência privada e de capitalização, além de corretoras e administradora de cartões.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condicionou a edição da MP que permitirá aos bancos oficiais comprar a participação acionária em empresas privadas à venda futura desses ativos. Ou seja, o governo pretende vender esses eventuais ativos assim que uma houver melhora no cenário econômico nacional e mundial. Nas palavras de Lula, "não é para estatizar, é para comprar e vender depois". A Medida Provisória é polêmica e muito criticada pela oposição. Por um lado o governo admite que não há empresas e bancos em estágio pré-falimentar, mas por outro lado acena com uma MP em socorro aos setores. Além disso, ela está sendo vista como pouco transparente. “Se não for inócua, a CEF-Par tem toda a cara de que será o bancão sombra da crise brasileira, o que vai engolir companhias podres, mas sem prestar contas claras (é um banco) e tendo o dinheiro público como o garantidor último de negócios ruins ou de negócios com amigos quebrados. Em suma, se a CEF fizer mau negócio, a conta cai no Tesouro Nacional”, escreve Vinicius Torres Freire. A eficácia daMP é questionada também por empresários e trabalhadores. “O governo foi infeliz na sua colocação dentro da medida, porque ele está apontando um problema de crédito ou se insolvência no setor que não existe atualmente. O nosso problema não é falta de crédito, é falta de credibilidade do mercado”, disse Carlos Alberto Aita, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS). Já para Celso Woyciechowski, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), não adianta o Estado comprar o prejuízo dos empresários com dinheiro público sem a garantia dos empregos pela iniciativa privada. Também o BNDES foi destacado parasocorrer empresas em dificuldades com problemas de liquidez por causa de operações com derivativos. Dias depois, o presidente doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),Luciano Coutinho, disse que o BNDES não é um “hospital” para socorrer as empresas em dificuldades. “Nós não estamos bancando prejuízo”, disse para se justificar. O socorro a essas empresas poderia ser saudado como positivo. Ela se inscreveria numa perspectiva keynesiana, de afirmação do papel do Estado na economia. Vista como muito justa e desejada por uma esquerda mais estatizante, que vê no Estado e na estatização a solução para todos os problemas econômicos e sociais. Mas, será esse o papel doBNDES, por exemplo? Mais, será que isso é suficiente? Basta estatizar para solucionar? Com essa solução, mata-se um debate mais abrangente sobre outras possíveis saídas para a crise. E nesse debate, a esquerda parece estar ausente ou também árida de idéias inovadoras.