sexta-feira, 27 de maio de 2011

Seremos uma potência ambiental?

Seminário sobre mudanças climáticas promovido pela Abes, em São Paulo, dá destaque a projetos que estão ajudando o Brasil a se alinhar à economia de baixo carbono 

Por Bruno Pavan Almeida, de São PauloDebater políticas públicas e mecanismos de mercado que possam ajudar as empresas – especialmente as do setor de saneamento – a conter emissões de gases causadores do efeito-estufa. Este é o grande objetivo do seminário “Mudanças Climáticas e as Interfaces com o Saneamento”, evento que se encerra nesta sexta-feira, em São Paulo. Realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), o seminário reúne os representantes de algumas das mais importantes empresas e entidades públicas de São Paulo – como a Sabesp, a Cetesb e o Proclima –, além de especialistas no tema das mudanças climáticas. 

Nesta quarta-feira, o tom do seminário foi de urgência e mobilização. Há consenso de que, se nada for feito, em breve o custo ambiental – aí incluídas as catástrofes naturais – poderá superar o PIB mundial até 2065. Felizmente, pelo menos no Brasil, há boas iniciativas em curso para tentar domar os efeitos mais perversos das mudanças climáticas. Uma delas é da BM&F Bovespa, que criou dois índices para identificar as empresas mais alinhadas com as práticas de sustentabilidade ambiental. O primeiro é o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o outro, lançado em 2010, é o ICO2 – que classifica as companhias listadas na bolsa de acordo com o seu volume de emissões de gases. 

Adriana Santos, responsável pelos projetos, diz que a iniciativa já começa a dar resultados. “Principalmente no ISE, que é mais antigo, já começa a ter alguma melhora nas práticas ambientais das empresas. Hoje, as empresas pode mse comparar com outras do mesmo setor para saber o quanto estão evoluindo. Acreditamos que uma hora isso vai ser observado pelo investidor que dará prioridade a essas empresas preocupadas com o meio ambiente”, explicou. 

O Carbon Disclousure Project (CDP), um dos mais importantes projetos de incentivo à contabilização de emissões de carbono no mundo, também marcou presença no seminário da Abes. Juliana Campos Lopes, diretora do CDP no Brasil, explica que as linhas do projeto envolvem inúmeros atores. “Nossa idéia é mobilizar desde investidores até empresas com capital em bolsa e governos para a questão da economia sustentável”, garante ela. Hoje, o CDP é mantido por investidores que, juntos, detêm cerca de US$ 71 trilhões em investimentos. 

A questão das políticas públicas também foi discutida. Para Juliana, um dos pontos mais urgentes nessa área é aprimorar a qualidade do transporte público. “Em algumas cidades hoje você tem o deslocamento de uma população inteira por dia – uma população que não encontra empregos nas regiões em que reside. É muito complicado discutir esse fator em cidades que já tiveram uma ocupação desordenada por décadas, mas acho que esse ponto e o do transporte público poderiam ser os prioritários no debate”, avalia ela. 

A tributação é outra questão-chave. Os participantes do seminário cobraram do governo uma atitude para desonerar as empresas que poluem menos. Entretanto, para Rachel Bidermann, especialista da Fundação Getúlio Vargas, buscar privilégios fiscais para as empresas sustentáveis é um desafio hercúleo – e de eficiência questionável. “A tributação é apenas um ponto entre vários outros que oneram a operação de uma empresa. Nós, da FGV, estamos disposto a fazer um estudo sobre isto, mas acreditamos que isto vai muito além do que a gente pode avaliar”, explica ela. De qualquer forma, Rachel destaca que a discussão sobre os aspectos tributários da sustentabilidade deveria ser uma das prioridades no Brasil. “Se queremos ser competitivos na economia de baixo carbono, precisamos ter um mapeamento muito complexo de tudo que precisamos fazer”, afirma Rachel. 

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