domingo, 3 de julho de 2011

Inovar para marcar a diferença


A falta de fomento à inovação torna as empresas espanholas pouco competitivas no mercado mundialPor Alejandro Suárez*

Em plena crise econômica mundial, em que a concorrência entre empresas pode chegar a ser uma batalha de vida ou morte, existe um conceito-chave que nos permite não só a diferenciação, mas também o crescimento e o desenvolvimento de uma vantagem competitiva em relação a outras empresas e países. É a inovação

Historicamente, o meu país, a Espanha, não foi inovador nos últimos 50 anos. Longe disso: um dos maiores buracos negros das empresas espanholas são paupérrimos resultados de inovação e desenvolvimento, especialmente no que diz respeito às pequenas e às médias empresas. Para começar, observo uma confusão no conceito. Inovar é, segundo o dicionário, “a criação e a modificação de um produto, assim como sua introdução no mercado”. No meu país, as iniciativas destinadas a inovar muitas vezes acabam aplicando e imitando os modelos gestados e validados internacionalmente para usá-los ao mercado local. Ou seja, são raras as vezes que empresas espanholas obtêm resultados em inovação e desenvolvimento; limitamo-nos a importar tecnologia e clonar idéias do exterior 12 ou 24 meses depois. Falo muito da Espanha, já que é o caso que mais conheço, mas o mesmo se poderia extrapolar para muitas outras empresas da América Latina. Esse é um dos tendões de Aquiles de nossas empresas: pouco risco, pouco investimento em inovação e, nas raras ocasiões que esta existe (como no caso de algumas universidades espanholas), fica limitada a um exercício teórico sem vocação nem futuro comercial, que normalmente termina numa gaveta, sem cumprir o que deveria ser seu objetivo: acabar um ciclo de comercialização e produção. Muitas vezes a administração pública se esforça em fomentar, por intermédio de todo tipo de ajuda e subvenção, tudo o que representa inovação, mas o resultado é bastante limitado hoje em dia. O culpado? Possivelmente a falta de cultura empreendedora e inovadora, uma busca do resultado econômico imediato e, normalmente, a mão do capital de risco, que ironicamente oferece pouco “capital” e literalmente nenhum “risco”. Sem essa última variável não há a possibilidade de a empresa particular inovar, já que não se pode permitir viver unicamente dos próprios fundos e subvenções. A inovação representa uma aposta e deve ser decidida e sustentada, especialmente no médio prazo, se o que se quer são resultados minimamente interessantes. Um dos fatores mais significativos para medir a inovação de um país é o número de patentes solicitadas. Esse indicador mostra, há algum tempo, um movimento de novas tendências no Japão, no mercado anglo-saxão e no nordeste da Ásia, que cresce rapidamente. Segundo os relatórios da Organização Mundial de Propriedade Intelectual, o Japão é o país que, em 2005 (último ano em que se dispõe de estudos globais), teve o maior número de patentes per capita, com 2.876 por cada milhão de habitantes. Meu país encontra-se a anos-luz disso, no posto 25, atrás de países como Ucrânia, Cingapura e Cazaquistão. A Espanha tem 70 patentes para cada milhão de habitantes e crescimento anual moderado, de 4%, inferior à média mundial. Isso nos faz a cada ano cair na lista da inovação, frente a países como a China, que tem enormes crescimentos no número de patentes, com taxas maiores que 40% por ano. A maior parte dos países da América Latina está ainda mais atrás. Cabe destacar que esse não é um problema econômico, mas sim um problema cultural e conceitual. Não há “cultura de inovação”. De todos os indicadores analisados pela União Europeia, ressalta-se o denominado “espírito empreendedor”, chave para forçar a inovação e a criação de companhias, onde meu país cai no desastroso posto 22 entre os 25 da UE. A crise econômica deve ser entendida e vista como a desculpa perfeita para abrir os olhos, inovar, desenvolver departamentos de inovação e estabelecer, por fim, sinergias e vínculos entre organismos inovadores por natureza, como certas universidades. Está em nossas mãos reverter em poucos anos a situação e colocar nosso país num ponto de vista competitivo real com os países do nosso entorno. Espero que, na Espanha, possamos abrir os olhos. No Brasil, também. * Alejandro Suárez Sánchez-Ocaña é empresário do setor de tecnologia na Espanha e no Brasil. É CEO do Rede de Blogs Lazer e da Ocio Networks - www.alejandrosuarez.com.br

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