quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Juros não caem antes de 2011

Relatório Focus mostra que o mercado não aposta mais em queda na Selic até o final de 2010. Ao contrário: com a economia brasileira de volta aos eixos, a projeção é de que o Copom volte a usá-la como válvula para conter a pressão inflacionária

Divulgada no início desta semana pelo Banco Central, a última edição do relatório Focus traz uma informação um tanto surpreendente: a maioria das instituições financeiras acredita que a taxa básica de juros não vai mais cair até o final de 2010. Ao contrário: a aposta é de que, até lá, a Selic sofra um aumento de meio ponto percentual, chegando a 9,25% ao ano. A projeção - que reflete a média das expectativas de 100 instituições financeiras que atuam no país - vai na contramão daquilo que vinha se desenhando no cenário macroeconômico brasileiro. Com a economia global em vias de se estabilizar e o Brasil aparentemente livre dos empuxos da crise, muitos empresários e analistas esperavam que a Selic continuaria caindo até se equiparar à taxa básica de alguns países desenvolvidos - abaixo dos 5% ao ano.

Como explicar essa reversão nas expectativas? Para Cristiano Souza, economista do Santander, um dos fatores que pesaram foi a perspectiva de que a economia brasileira volte a crescer no ritmo pré-crise. Nesse caso, o BC voltaria a aplicar um velho remédio - o aumento dos juros - para manter a inflação sob controle. "Com o aumento nos índices de consumo, existe esse medo de pressão inflacionária", explica Souza. Diferentemente da média das instituições pesquisadas pelo BC, o Santander trabalha com uma perspectiva de manutenção da taxa básica de juros em 8,75% ao ano até o final de 2010. "Com o crescimento do PIB em 3,5%, que é nossa previsão, a Selic deve ficar estável". Já Denílson Alencastro, economista da Geral Asset, lembra que 2010 é um ano eleitoral. Consequentemente, o governo tende a gastar mais com o funcionalismo público - o que eleva ainda mais o risco de um retorno da inflação.

Para completar, o aumento dos gastos governamentais não seguem uma lógica de sustentabilidade. Em geral, diz Souza, o governo injeta muito dinheiro em salários e contratações, mas pouco em infraestrutura. O resultado são gargalos que só fazem agravar a inflação. "Os investimentos não são cíclicos. Aumentam-se os gastos fixos e sobram poucos recursos para infraestrutura", explica Souza. No primeiro semestre deste ano, lembra ele, as despesas do governo com salários e contratação de pessoal cresceram cinco vezes mais do que os gastos com infraestrutura. "Só consumo e oferta não dão conta de um crescimento sustentável", critica ele.

Na consultoria Tendências, o cenário é mais otimista que a média do mercado financeiro. Enquanto as instituições apontam uma alta de 3,6% do PIB em 2010, a consultoria aposta em um incremento de 4,8%. "É preciso observar a trajetória da atividade, que caiu bastante no último trimestre de 2008 e vem se recuperando gradualmente", destaca Marcela Prado, economista da Tendências. Ela argumenta que o crescimento tende a ser impulsionado pela indústria, que ainda está com bastante capacidade ociosa em função da crise mundial. Para Marcela, o Brasil tem espaço para crescer até o limite da produção industrial sem um impacto maior na inflação - e tampouco na taxa básica de juros.

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