sábado, 21 de maio de 2011

Entendendo as diferenças entre inovar e inventar


Por Olávio Schoenau
O Brasil deve ser o país mais folclórico do mundo. É impressionante a facilidade e a habilidade dos brasileiros para ver o lado bom até do inimaginável. Dizem que, dia desses,  um empresário, com as orelhas vermelhas de tanto ouvir falar em “inovar” decidiu reunir seus auxiliares mais diretos e decidiu taxativamente: “Ô Pedro, tá autorizado a contratar um inventor. Vamos arrasar nesse negócio de inovar”.
Bom, confesso, humildemente, que, durante algumas semanas, fiz um bocado de confusões entre os conceitos de inventar e inovar. Até que alguém, com mais cancha, repassou-me a “fórmula mágica” e nunca mais a esquecerei.
É muito simples e basta raciocinar um pouco. Peço que procurem me acompanhar no raciocínio.
Sempre pensando como empreendedores, percebam que, quando alguém fala em “inovar”, está falando em modificar alguma coisa que já existe. Se for um produto, será um que já foi submetido ao mercado, independentemente dos resultados que auferiu, com ou sem sucesso.
A base lógica é óbvia: a intenção do empreendedor é sempre de modificar para melhor e, com a sua ousadia, superar as ofertas da concorrência. Isso se traduz em mais negócios, mais faturamento, mais receitas e geralmente mais lucros. Do ponto de vista clássico, isso é “inovar”.
Um comentário, em tempo, que pode ser útil na continuidade do raciocínio: antes de avançarmos, convém lembrar que não é proibido copiar, a menos que o produto focado esteja resguardado por  patenteamento de propriedade. Caso contrário, é perfeitamente válido copiar o quê de bom os concorrentes estão oferecendo ao mercado. Caso contrário, a sua empresa vai ficar defasada e, rapidamente, ultrapassada no cenário competitivo.
Obviamente que é salutar a pré-definição de alguns critérios que balizem a decisão de copiar. Não se trata de sair copiando, inconsequentemente, porque o risco de copiar produto de má qualidade é enorme. Muito cuidado, portanto, pré-definir critérios é bom.
Mas, então, por que a confusão entre inovar e inventar? Creio que seja por falta de conhecimento de conceitos, de estudos mais profundos. Há que se relevar, todavia, boa parte daqueles que fazem a confusão e que tem dificuldades em distinguir as duas situações.
Quando falo em relevar reporto-me a inovações ousadas, avançadas e que dão a nítida impressão de que, em vez uma inovação, surgiu uma invenção. Vou dar um exemplo interessantíssimo: o motor flex de um automóvel. À época em que foi lançado o primeiro flex, boa parte da sociedade ficou perplexa: “como é possível acionar motores com combustíveis tão diferentes como a gasolina e o álcool? E até usá-los simultaneamente?”.
Realmente, foi uma inovação radical e genial. Mas, não deixou de ser inovação porque o motor continuou existindo e exercendo as mesmas funções. As fábricas que lançaram o flex produziram mais, faturaram mais, lucraram mais... até que todas as fábricas o adotaram e o flex deixou de ser inovação.
Vejamos, somente para consagrar os conceitos de inovação e invenção, tomar outro exemplo de produto popular: a geladeira. A primeira que eu vi foi por volta de 1948. Era uma caixa refrigeradora com uma gaveta para frutas, legumes e carnes. Nem espaço adequado para ovos ela tinha. Aliás, nem congelador ela tinha.
Passaram-se mais de 50 anos e a geladeira continua aí, ostentando a primazia de principal utensílio para as donas de casa nas cozinhas. Mas, se se analisarmos as modificações que foram realizadas naquela geladeira que conheci em 1948 (e que me permitia tomar capilé gelado, algo fantástico no calor de Blumenau) até hoje é de ficarmos espantados.
São dezenas de modificações, todas elas visando o melhor funcionamento da geladeira, é claro, mas, sobretudo, buscando superar a qualidade e apelo do produto do concorrente.
Entendida melhor a inovação fica bem mais fácil compreender o que significa a invenção. Um produto inventado pode até vir a se tornar objeto de comercialização e produção em série. Para tanto, todavia, ele precisa, antes, ser submetido ao interesse da sociedade.
Se uma pesquisa demonstrar que haverá demanda para aquele produto, um bom plano de negócios poderá atestar o potencial de comercialização daquele produto. E, assim, uma invenção deixa de se tornar uma invenção para se tornar um produto, que, logo, logo, estará sendo copiado e recebendo inovações que o possam distinguir daqueles produzidos pelos concorrentes.
No mundo dos negócios, não cabem nem invenções nem mágicas. Nele, tudo é pura realidade.
Olávio Schoenau é consultor da Unidade de Inovação e Competitividade do Sebrae/PR

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